quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sabinada



Sabinada, uma revolta promovida por escravos.
A Bahia, desde o período colonial, se destacou como palco de luta contra a opressão política e o desmando governamental. A Sabinada foi um movimento que teve início entre as elites militares, médicas e jornalistas baianas, seu principal idealizador foi Francisco Sabino, médico e jornalista; entretanto, o movimento se destacou por ter grande participação das camadas populares.

Antes do seu desenvolvimento, um grupo de negros malês tentou conquistar a cidade de Salvador. Contudo, mediante a delação às autoridades, essa primeira revolta não se desenvolveu. Nesse segundo momento, liderados pelo médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, os participantes da Sabinada se opsueram à mal resolvida questão da centralização política que se arrastava desde o início do Brasil Império.

Em 7 de novembro de 1837, o movimento conseguiu a adoção dos militares da Fortaleza de São Pedro. Contando com tal apoio, os revoltosos obrigaram o governador Francisco de Souza Paraíso a abandonar seu cargo. Logo após o golpe político, Sabino e seus comparsas decretaram a criação da República Bahiense.

Apesar de conseguir sua consolidação, o novo governo se instituiu em caráter transitório, até que o herdeiro do trono brasileiro, Dom Pedro II, chegasse à maioridade. No âmbito social, a nova república, criada em solo baiano, prometia conceder liberdade a todos os escravos que apoiassem o governo.

Em resposta ao movimento, o governo regencial nomeou um novo governador e organizou um destacamento de forças militares destinadas a dar fim ao levante. Após bloquear as saídas marítimas de Salvador, as tropas do governo iniciaram o ataque terrestre. Entre os dias 13 e 15 de março, as ruas de Salvador foram ocupadas pelas forças regenciais, que renderam os participantes da revolta.

Logo após a batalha, os líderes da revolta foram julgados, sendo que três foram condenados à morte e os demais à prisão perpétua. No entanto, as penas foram posteriormente abrandadas para o degredo em território nacional.

Revolução Farroupilha



Representação dos conflitos entre os farrapos e as tropas imperiais.
Demarcada como uma das mais extensas rebeliões deflagradas no Brasil, a Revolução Farroupilha contou com uma série de fatores responsáveis por esse conflito que desafiou as autoridades imperiais. Naquele período, a insatisfação junto às políticas imperiais e a proximidade das jovens repúblicas latino-americanas demarcaram o contexto inicial do conflito.

Ao longo da história econômica da região sul, a pecuária tornou-se um dos principais focos da economia gaúcha. Ao longo do processo de diversificação das atividades econômicas do país, os estancieiros (fazendeiros) sulistas tornaram-se os principais produtores de charque do Brasil. Esse produto, devido sua importância nos hábitos alimentares da população e seu longo período de conservação, articulava a economia agropecuária sulista com as regiões Sudeste e Centro-oeste do país.

Durante o Primeiro Reinado e Regência, vários impostos impediam a ampliação dos lucros dos fazendeiros sulistas em consequência do encarecimento do preço final do charque gaúcho. Não bastando os entraves tributários, a concorrência comercial dos produtos da região platina colocou a economia pecuarista gaúcha em uma situação insustentável. Buscando acordo com o governo central, os estancieiros gaúchos exigiam a tomada de medidas governamentais que pelo menos garantissem o monopólio sulista sob o comércio do charque.

Em 1836, inconformados com o descaso das autoridades imperiais, um grupo liderado por Bento Gonçalves exigiu a renúncia do presidente da província do Rio Grande do Sul. Em resposta à invasão feita na cidade de Porto Alegre, um grupo de defensores do poder imperial, também conhecidos como chimangos, conseguiu controlar a situação em junho daquele mesmo ano. Logo após a batalha de Seival, de setembro de 1836, os revolucionários venceram as tropas imperiais e proclamaram a fundação da República de Piratini ou República Rio-Grandense.

Com a expansão do movimento republicano, surgiram novas lideranças revolucionárias na região de Santa Catarina. Sob a liderança de Guiseppe Garibaldi e David Canabarro, foi fundada a República Juliana que deveria confederar-se à República Rio-Grandense. Dessa vez, melhor preparadas, as tropas imperiais conseguiram fazer frente aos revoltosos que, devido à participação popular, ficaram conhecidos como farrapos. Sob a liderança do barão de Caxias, as forças imperiais tentavam instituir a repressão ao movimento.

Mesmo não conseguindo aniquilar definitivamente a revolta, o governo imperial valeu-se da crise econômica instaurada na região para buscar uma trégua. Cedendo às exigências dos revolucionários, o governo finalmente estabeleceu o aumento das taxas alfandegárias sobre o charque estrangeiro. A partir daí, Duque de Caxias iniciou os diálogos que deram fim ao movimento separatista.

Em 1844, depois da derrota farroupilha na batalha de Porongos, um grupo de líderes separatistas foi enviado à capital federal para dar início às negociações de paz. Após várias reuniões, estabeleceram os termos do Convênio do Ponche Verde, em março de 1845. Com a assinatura do acordo foi concedida anistia geral aos revoltosos, o saneamento das dívidas dos governos revolucionários e a libertação dos escravos que participaram da revolução.

Revoltas Provinciais



As revoltas provinciais manifestavam o descontentamento com a estrutura política do Império.
Findado o processo brasileiro de independência, o governo imperial tinha por obrigação estabelecer as diretrizes e ações que organizariam o Brasil na qualidade de nação soberana. Dentro deste contexto, percebemos a formação de algumas facções políticas distintas entre os membros da elite que compunham o cenário político nacional. De forma mais ampla, a grande discussão da época era definir os limites da autoridade imperial e o papel a ser desempenhado pelas províncias.

Nesse tocante, os partidários de tendência mais liberal acreditavam que as províncias deveriam ter considerável autonomia e o imperador deveria ter seus poderes limitados pela constituição. Alguns mais radicais, apesar da pouca expressividade, saíram em defesa do fim da ordem monárquica e a criação de uma república pautada na experiência dos norte-americanos. Contudo, para os ouvidos da elite conservadora, a república ofereceria sérios riscos à ordem.

Uma parcela significativa dos proprietários de terra era defensora de uma estrutura política centralizada e, ao mesmo tempo, comprometida com os interesses das elites. Não por acaso, os membros das classes mais abastadas acreditavam que o apoio ao governo imperial seria de suma importância na conservação da ordem escravista e da hegemonia política dos agroexportadores.

No ano de 1824, com a oficialização da nossa primeira constituição, vemos que a tendência conservadora se viu privilegiada com a criação do poder moderador e a adoção do voto censitário. Por meio destes dois instrumentos, o imperador poderia interferir nas demais esferas de poder, e a escolha dos representantes políticos não sofreria a influência de grupos políticos de natureza popular. Com isso, a maioria da população se manteria alheia do cenário político.

Apesar de todas estas salvaguardas e empecilhos, não podemos presumir que as manifestações políticas populares foram completamente tolhidas no século XIX. A partir do período regencial, entre 1831 e 1840, várias províncias se voltaram contra a estrutura de poder centralizada. Sem contar com espaço nas instituições oficiais, a solução encontrada foi organizar levantes que iam contra a vigência daquela ordem excludente e autoritária.

Nas províncias do Pará, Bahia e Maranhão, líderes de origem popular tentaram subverter o domínio do governo central através da organização de levantes que tomariam controle do poder local. Contudo, através da ação de delatores ou a falta de apoio efetivo de outros setores da sociedade, essas revoltas acabaram sendo sufocadas pela violenta ação de mercenários estrangeiros e tropas oficiais. A única exceção ocorreu na região sul, onde esse tipo de movimento partiu do interesse exclusivo das elites pecuaristas.

Revolta dos Malês



Malês: escravos muçulmanos na cidade de Salvador.
A revolta dos Malês pode ser compreendida como um conflito que deflagrou oposição contra duas práticas comuns herdadas do sistema colonial português: a escravidão e a intolerância religiosa. Comandada por negros de orientação religiosa islâmica, conhecidos como malês, essa revolta ainda foi resultado do desmando político e da miséria econômica do período regencial.

Com o deslocamento do eixo econômico-admininstrativo do Brasil para a região sudeste e as constantes crises da economia açucareira, a sociedade baiana do período tornou-se um sinônimo de atraso econômico e desigualdade socioeconômica. Além desses fatores, devemos também destacar que as prescrições religiosas incentivadas pelas autoridades locais promoveram a mobilização desse grupo étnico-religioso específico.

Anos antes da revolta, as autoridades policiais tinham proibido qualquer tipo de manifestação religiosa em Salvador. Logo depois, a mesquita da “Vitória” – reduto dos negros muçulmanos – foi destruída e dois importantes chefes religiosos da região foram presos pelas autoridades. Dessa maneira, os malês começaram a arquitetar um motim programado para o dia 25 de janeiro de 1835.

Nesta data, uma festa religiosa na cidade Bonfim esvaziaria as ruas de Salvador dando melhores condições para a deflagração do movimento. Naquela mesma data, conforme a tradição local, os escravos ficariam livres da vigilância de seus senhores. Entre os ideais defendidos pelos maleses, damos destaque à questão da abolição da escravatura e o processo de africanização de Salvador por meio do extermínio de brancos e mulatos.

Mesmo prevendo todos os passos da rebelião, o movimento não conseguiu se instaurar conforme o planejado. A delação feita por dois negros libertos acionou um conflito entre as tropas imperiais e os negros malês. Sem contar com as mesmas condições das forças repressoras do Império, o movimento foi controlado e seus envolvidos punidos de forma diversa. Apesar de não alcançar o triunfo esperado, a Revolta dos Malês abalou as elites baianas mediante a possibilidade de uma revolta geral dos escravos.

Revolta de Vila Rica



Pintura representando a condenação de Filipe dos Santos.
A dinâmica de exploração da colonização portuguesa no Brasil assumiu diferentes formas e intensidades ao logo da trajetória do Brasil Colônia. A definição das atividades mineradoras como principal atividade econômica do século XVII deu margem para um sistema de tributação e práticas fiscalizantes nunca outrora observadas em nossa história colonial.

A região de Minas Gerais, na qualidade de maior centro desse tipo de exploração econômica, também foi o local propício para diversos episódios de indignação e revolta contra o controle massivo das autoridades metropolitanas. A própria Guerra dos Emboabas, deflagrada no início das atividades mineradoras, prenunciava que o interesse econômico português seria responsável pela inconformidade de alguns integrantes da sociedade colonial.

Observando a ameaça de seus lucros com o contrabando e a livre exploração dos minérios, Portugal resolveu implementar uma série de tributações a serem aplicadas sob a região das Minas Gerais. Em 1719, ainda buscando garantir uma ampla margem de lucro, os portugueses instituíram as chamadas Casas de Fundição, que funcionariam como centros de cobrança e controle sobre as riquezas extraídas do solo.

Paralelamente à tributação dos minérios, a formação de diversos centros urbanos trouxe outra notável fonte de renda à metrópole. Graças às amarras econômicas estabelecidas pelo pacto colonial, os colonos ainda eram obrigados a pagar os altos valores cobrados sob os gêneros manufaturados oferecidos por Portugal. Mediante essa lógica de exploração e controle é que compreendemos a deflagração da Revolta de Filipe dos Santos, em 1720.

A hostilidade e a desconfiança instaladas na região das minas faziam com que qualquer suspeita de contrabando ou sonegação acionassem a rígida ação das tropas metropolitanas. Durante um desses episódios de averiguação das forças metropolitanas, um grupo de mineiros resolveu atacar a casa do ouvidor-mor, principal autoridade judicial da região. Logo em seguida, dirigiram-se para Vila do Carmo a fim de pressionar o governador da região, o Conde de Assumar.

O grupo, liderado pelo tropeiro Filipe dos Santos, reivindicava o fechamento das casas de fundição. Prometendo atender a demanda do grupo, o levante retornou à Vila Rica à espera das ações do governador. No entanto, isso serviu para que as tropas portuguesas se organizassem contra os revoltosos. No dia 14 de julho iniciou-se o conflito que prendeu vários participantes e condenou Filipe dos Santos à morte e ao esquartejamento.

Período Joanino



Dom João VI (ao lado de sua esposa, Carlota Joaquina) trouxe diversas mudanças com a transferência da Família Real para o Brasil.
A chegada da família real portuguesa no Brasil marcou intensamente os destinos do Brasil e da Europa. Pela primeira vez na história, um rei europeu transferia a capital de seu governo para o continente americano. Escoltados por embarcações britânicas, cerca de 10 mil pessoas fizeram a viagem que atravessou o oceano Atlântico. Sofrendo diversos inconvenientes durante a viagem, os súditos da Coroa Portuguesa enfrentaram uma forte tempestade que separou o comboio de embarcações. Parte dos viajantes aportou primeiramente na Bahia e o restante na cidade do Rio de Janeiro.

Responsabilizados por escoltar a Família Real e defender as terras portuguesas da invasão napoleônica, os ingleses esperavam vantagens econômicas em troca do apoio oferecido. Já na Bahia, D. João, orientado pelo economista Luz José da Silva Lisboa, instituiu na Carta Régia de 1808 a abertura dos portos a “todas as nações amigas”. A medida encerrava o antigo pacto colonial que conduziu a dinâmica econômica do país até aquele momento.

Além de liberar o comércio, essas medidas trouxeram outras importantes conseqüências de ordem econômica. O contrabando sofreu uma significativa diminuição e os recursos arrecadados pela Coroa também aumentaram. Ao mesmo tempo, os produtos ingleses tomaram conta do país, impedindo o desenvolvimento de manufaturas no Brasil, as cidades portuárias tiveram notório desenvolvimento. Dois anos mais tarde, o decreto de 1808 transformou-se em um tratado permanente.

No ano de 1810, os Tratados de Aliança e Amizade e de Comércio e Navegação, fixaram os interesses britânicos no mercado brasileiro. Foram estabelecidas taxas alfandegárias preferenciais aos produtos ingleses. Os produtos ingleses pagavam taxas de 15%, os portugueses de 16% e as demais nações estrangeiras pagariam uma alíquota de 24%. Além desses valores, o tratado firmava um compromisso em que o tráfico negreiro seria posteriormente extinguido.

Além de trazer transformações no jogo econômico, o governo de Dom João VI empreendeu outras mudanças. Adotada como capital do império, a cidade do Rio de Janeiro sofreu diversas modificações. Missões estrangeiras vieram ao país avaliar as riquezas da região, a Biblioteca Real foi construída, o primeiro jornal do país foi criado. Além disso, novos prédios públicos foram estabelecidos. A Casa da Moeda, Banco do Brasil, a Academia Real Militar e o Jardim Botânico foram algumas das obras públicas do período joanino.

Nas questões externas, Dom João VI empreendeu duas campanhas militares nas fronteiras do país. No ano de 1809, tropas britânicas e portuguesas conquistaram a cidade de Caiena, capital da Guina Francesa. A manobra, que tinha por objetivo agredir o governo francês, colocou a região sob o domínio do Brasil até quando o Congresso de Viena restituiu a região à França. No ano de 1817, as tropas imperiais invadiram a Província Cisplatina.

Essa nova investida militar era importante por razões diversas. Além de ser uma região de rico potencial econômico, o domínio sob a região da Cisplatina impedia uma possível invasão napoleônica às colônias da Espanha, que havia sido dominada pelas tropas francesas. Dez anos depois, um movimento de independência pôs fim à anexação da Cisplatina, dando origem ao Uruguai.

Em 1815, a administração joanina elevou o Brasil à condição de Reino Unido. Essa nova nomeação extinguiu politicamente a condição colonial do país. Inconformados, os lusitanos que permaneceram em Portugal se mostravam insatisfeitos com o fato do Brasil tornar-se a sede administrativa do governo português. Foi quando, em 1820, um movimento revolucionário lutou pelo fim da condição política secundária de Portugal. A chamada Revolução do Porto criou um governo provisório e exigiu o retorno de Dom João VI a Portugal.

Temendo a perda do seu poder, Dom João VI foi pra Portugal e deixou o seu filho, Dom Pedro I, como príncipe regente do Brasil. Os revolucionários, mesmo inspirados por princípios liberais, exigiram a volta do pacto colonial. No Brasil, as repercussões desses acontecimentos impulsionaram a formação de um movimento que possibilitou a independência do Brasil.

Marquesa de Santos


 

Marquesa de Santos: uma aventura amorosa que abalou a imagem política de Dom Pedro I.
Durante o século XIX, a condição da mulher era cercada por rígidos padrões morais que determinavam o seu lugar em uma sociedade dominada por homens. No entanto, as exigências de recato e subserviência nem sempre acabavam por selar o destino de todas as mulheres do Brasil Imperial. Escapando dos valores da época, é possível encontrar várias histórias em que mulheres extrapolaram seus limites estabelecidos para viver outra espécie de destino.

Entre esse singular tipo de mulher, podemos enquadrar a bela e jovem Domitila de Castro Canto e Melo. Nascida em São Paulo de Piratininga, em 27 de dezembro de 1797, a filha do coronel reforma João de Castro Cantão e Melo e de Escolástica Bonifácio de Toledo Ribas, marcou os primeiros e conturbados anos do Brasil Império. Um pouco antes disso, já congregando fervorosos admiradores na juventude, ela se casou com apenas quinze anos de idade.

Esse primeiro casamento acabou em rápida separação, o que levou a jovem retornar à fazenda dos pais. No decisivo ano de 1822, quando a independência seria consumada, foi que a bela jovem paulistana teria o seu primeiro encontro com Dom Pedro I. Deixando à parte os detalhes do primeiro encontro (sobre o qual existem diferentes versões) vemos que o enlace do casal, logo impeliu nosso jovem imperador a colocar a bela Domitila mais próxima de seus olhos.

No ano de 1823, ela se mudava para a cidade do Rio de Janeiro, onde residiu inicialmente na Quinta da Boa Vista. Casado com Leopoldina de Habsburgo, Dom Pedro I chocava a sociedade da época ao sustentar seu caso extraconjugal sem a mínima preocupação de encobrir a amante ou sustentar a imagem de uma autoridade respeitável. Ao tornar a amante primeira-dama da imperatriz e assumir a paternidade de Isabel Maria, primeira filha com Domitila, D, Pedro I inquietava a opinião pública.

Com a seguida morte da imperatriz, os ataques ao romance intensificavam-se ainda mais. Vários ministros renegavam o poder de influência e as aspirações de uma mulher que tanto chamava a atenção do imperador do Brasil. Em diferentes ocasiões, D. Pedro I demitiu esses ministros e outros funcionários que discordavam de sua aventura amorosa. À medida que a paixão se ampliava, o imperador concedeu os títulos de viscondessa e marquesa de Santos para sua amante.

Para muitos, a ação daquela mulher moldava o comportamento político do imperador e sua grande ambição seria ocupar a condição de Imperatriz do Brasil. Entretanto, contrariando às expectativas, Dom Pedro I acabou escolhendo Amélia Beauharnais, a Duquesa de Luuchtemberg, como mulher de posição mais adequada para estar ao seu lado no governo imperial. Mediante o novo e inesperado matrimônio real, o relacionamento entre o imperador e a marquesa de Santos chegava ao seu fim.

Voltando grávida de seu último filho com D. Pedro I à São Paulo, a marquesa de Santos resolveu domiciliar-se na chácara de Francisco Ignácio de Souza Queiroz. Nesse tempo, passou a constituir uma nova relação com o coronel Rafael Tobias de Aguiar, com quem se casou em 1842. Teve seis filhos com esse seu novo marido, passou a ajudar pobres, doentes e estudantes, e ficou viúva em 1857. Dez anos mais tarde, aos setenta nos de idade, ela veio a falecer deixando um vasto patrimônio.

Maria Leopoldina


Nascida em Viena, no ano de 1797 e falecida no Rio de Janeiro em 1826, foi a primeira imperatriz do Brasil. Seus pais foram Francisco 1, da Áustria e D. Maria Isabel de Bourbon Nápoles. Em 13-5-1817, por procuração, casou-se com D. Pedro de Alcântara, filho de D. João VI e herdeiro do trono do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Quando o Príncipe viajou para São Paulo, em agosto de 1822, para apaziguar a política local, (o que culminou com a proclamação da lndependêncía), dona Leopoldina exerceu a regência do Brasil.
Grande foi a influência de D. Leopoldina na Independência, pois o envio de papéis, provenientes de Lisboa ao seu marido, junto dos comentários de Antônio Carlos, na época deputado às Cortes, pelos quais o Príncipe-Regente se inteirou das críticas que lhe faziam na Metrópole. Também a posição de D. João VI e de todo o seu ministério, completamente dominados pelas Cortes era vexatória.

Junto aos comentários enviou uma carta de José Bonifácio e outra de sua redação, cartas essas que solicitavam com empenho uma decisão imediata de D. Pedro. D. Maria Leopoldina foi coroada imperatriz em 1-12-1822, na cerimônia de coroação e sagração de D. Pedro I. Faleceu por ocasião do 7.º parto, enquanto se encontrava o imperador no Rio Grande do Sul, para onde havia ido a fim de inspecionar as tropas na Guerra das Províncias Unidas do Rio da Prata. Foram seus filhos as Princesas D. Januária, D. Paula Mariana e D. Francisca bem como o Príncipe D. Pedro de Alcântara, que mais tarde subiu ao trono do Brasil com o nome de D. Pedro II. D. João Carlos, o primogênito faleceu ainda menino.

José Bonifácio

José Bonifácio de Andrada e Silva, cognominado o Patriarca da Independência, estadista brasileiro, nasceu em Santos, São Paulo, em 13 de junho de 1763. Foi professor de geognosia e metalurgia da Universidade de Coimbra, onde havia se graduado em Filosofia Natural e Direito Civil, e membro da Academia de Ciências de Lisboa. 

Por ocasião da Invasão Francesa, em 1807, alistou-se no Corpo Voluntário Acadêmico, tendo servido como oficial e depois como comandante. Expulsos os invasores, tornou-se Chefe de Polícia do Porto. 

Após retornar ao Brasil, dedicou-se ao estudo de minerais. Tornou-se figura de projeção política a partir de 1821, como vice-presidente da Junta Governativa de São Paulo. 
Foi o primeiro brasileiro a ocupar um ministério, o do Reino, em janeiro de 1822. Sua grande capacidade, seus dotes de inteligência e de caráter tornaram-no, junto a Dom Pedro, o principal obreiro da Independência. 

No Primeiro Reinado, ocupava a Pasta do Império quando, em 1823, com seu irmão Martim Francisco, afastou-se dos Conselhos da Coroa, iniciando a oposição a D. Pedro I. 

Foi eleito para a Assembléia Constituinte de 1823. Nesse ano, teve sua prisão e deportação para a Europa, ordenadas por D. Pedro I. Tendo voltado ao Brasil em 1829, foi residir na Ilha de Paquetá, de cujo retiro saiu apenas para assumir a cadeira de Deputado pela Bahia, como suplente, nas sessões legislativas de 1831 e 1832. Reaproximou-se do Imperador que, ao abdicar à Coroa, em 1831, o indicou para tutor de seu filho - o futuro Dom Pedro II. 

Foi destituído da tutoria, pela Regência, em setembro de 1833. Ficou em prisão domiciliar até 1835, quando terminou o processo-crime instaurado contra ele por conspiração e perturbação da ordem pública. 

Mudou-se nos últimos dias de vida para Niterói, Rio de Janeiro, onde veio a falecer em 1838. 
Praça da Independência, Praça José Bonifácio, Panteão dos Andradas e a casa da Rua XV de Novembro, no Centro da Cidade. Estes monumentos homenageiam o mesmo homem, um cientista, filósofo, poliglota e principalmente um líder político. Nascido em 13 de junho de 1763. Sua importância para o País e Santos é tamanha que até foi proposta a mudança do nome do município para Cidade Andradina ou Bonifácia, na época da elevação da categoria de vila à cidade. 

José Bonifácio formou-se em Direito Civil e Filosofia na Universidade de Coimbra, em Portugal. Viveu muito tempo na Europa, recebendo na França influências do ambiente revolucionário. A família real sabia de sua capacidade e temia que ele próprio proclamasse a independência brasileira. Por isso, pagavam seus estudos e o mantinham longe. Chefe do Ministério de D. Pedro, Bonifácio planejou a separação a separação de Portugal e influenciou o príncipe a fazê-la. 

E mais: por apenas dois dias de diferença, o famoso Grito do Ipiranga (Independência ou Morte) não foi dado em Santos. Era o que pretendia o Patriarca, ao trazer D. Pedro para cá pouco antes do fato. O príncipe teve uma indisposição e apressou seu retorno a São Paulo, proclamando a independência da Pátria na Capital. 

Em 13 de junho de 1999, o prefeito Beto Mansur assinou Projeto de Lei, instituindo o acréscimo no calendário oficial de Santos a 'Semana do Patriarca da Independência', a ser comemorada anualmente na segunda semana de junho. Além disso, a lei determinará que Santos se torne a 'Cidade do Patriarca'.

Independência do Brasil



Independência do Brasil: processo histórico culminado com a proclamação de Dom Pedro I.
Independência do Brasil: processo histórico culminado com a proclamação de Dom Pedro I.

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A independência do Brasil, enquanto processo histórico, desenhou-se muito tempo antes do príncipe regente Dom Pedro I proclamar o fim dos nossos laços coloniais às margens do rio Ipiranga. De fato, para entendermos como o Brasil se tornou uma nação independente, devemos perceber como as transformações políticas, econômicas e sociais inauguradas com a chegada da família da Corte Lusitana ao país abriram espaço para a possibilidade da independência.
A independência do Brasil, enquanto processo histórico, desenhou-se muito tempo antes do príncipe regente Dom Pedro I proclamar o fim dos nossos laços coloniais às margens do rio Ipiranga. De fato, para entendermos como o Brasil se tornou uma nação independente, devemos perceber como as transformações políticas, econômicas e sociais inauguradas com a chegada da família da Corte Lusitana ao país abriram espaço para a possibilidade da independência.


A chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil foi episódio de grande importância para que possamos iniciar as justificativas da nossa independência. Ao pisar em solo brasileiro, Dom João VI tratou de cumprir os acordos firmados com a Inglaterra, que se comprometera em defender Portugal das tropas de Napoleão e escoltar a Corte Portuguesa ao litoral brasileiro. Por isso, mesmo antes de chegar à capital da colônia, o rei português realizou a abertura dos portos brasileiros às demais nações do mundo.

Do ponto de vista econômico, essa medida pode ser vista como um primeiro “grito de independência”, onde a colônia brasileira não mais estaria atrelada ao monopólio comercial imposto pelo antigo pacto colonial. Com tal medida, os grandes produtores agrícolas e comerciantes nacionais puderam avolumar os seus negócios e viver um tempo de prosperidade material nunca antes experimentado em toda história colonial. A liberdade já era sentida no bolso de nossas elites.

Para fora do campo da economia, podemos salientar como a reforma urbanística feita por Dom João VI promoveu um embelezamento do Rio de Janeiro até então nunca antes vivida na capital da colônia, que deixou de ser uma simples zona de exploração para ser elevada à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves. Se a medida prestigiou os novos súditos tupiniquins, logo despertou a insatisfação dos portugueses que foram deixados à mercê da administração de Lorde Protetor do exército inglês.

Essas medidas, tomadas até o ano de 1815, alimentaram um movimento de mudanças por parte das elites lusitanas, que se viam abandonadas por sua antiga autoridade política. Foi nesse contexto que uma revolução constitucionalista tomou conta dos quadros políticos portugueses em agosto de 1820. A Revolução Liberal do Porto tinha como objetivo reestruturar a soberania política portuguesa por meio de uma reforma liberal que limitaria os poderes do rei e reconduziria o Brasil à condição de colônia.

Os revolucionários lusitanos formaram uma espécie de Assembleia Nacional que ganhou o nome de “Cortes”. Nas Cortes, as principais figuras políticas lusitanas exigiam que o rei Dom João VI retornasse à terra natal para que legitimasse as transformações políticas em andamento. Temendo perder sua autoridade real, D. João saiu do Brasil em 1821 e nomeou seu filho, Dom Pedro I, como príncipe regente do Brasil.

A medida ainda foi acompanhada pelo rombo dos cofres brasileiros, o que deixou a nação em péssimas condições financeiras. Em meio às conturbações políticas que se viam contrárias às intenções políticas dos lusitanos, Dom Pedro I tratou de tomar medidas em favor da população tupiniquim. Entre suas primeiras medidas, o príncipe regente baixou os impostos e equiparou as autoridades militares nacionais às lusitanas. Naturalmente, tais ações desagradaram bastante as Cortes de Portugal.

Mediante as claras intenções de Dom Pedro, as Cortes exigiram que o príncipe retornasse para Portugal e entregasse o Brasil ao controle de uma junta administrativa formada pelas Cortes. A ameaça vinda de Portugal despertou a elite econômica brasileira para o risco que as benesses econômicas conquistadas ao longo do período joanino corriam. Dessa maneira, grandes fazendeiros e comerciantes passaram a defender a ascensão política de Dom Pedro I à líder da independência brasileira.

No final de 1821, quando as pressões das Cortes atingiram sua força máxima, os defensores da independência organizaram um grande abaixo-assinado requerendo a permanência e Dom Pedro no Brasil. A demonstração de apoio dada foi retribuída quando, em 9 de janeiro de 1822, Dom Pedro I reafirmou sua permanência no conhecido Dia do Fico. A partir desse ato público, o príncipe regente assinalou qual era seu posicionamento político.

Logo em seguida, Dom Pedro I incorporou figuras políticas pró-independência aos quadros administrativos de seu governo. Entre eles estavam José Bonifácio, grande conselheiro político de Dom Pedro e defensor de um processo de independência conservador guiado pelas mãos de um regime monárquico. Além disso, Dom Pedro I firmou uma resolução onde dizia que nenhuma ordem vinda de Portugal poderia ser adotada sem sua autorização prévia.

Essa última medida de Dom Pedro I tornou sua relação política com as Cortes praticamente insustentável. Em setembro de 1822, a assembleia lusitana enviou um novo documento para o Brasil exigindo o retorno do príncipe para Portugal sob a ameaça de invasão militar, caso a exigência não fosse imediatamente cumprida. Ao tomar conhecimento do documento, Dom Pedro I (que estava em viagem) declarou a independência do país no dia 7 de setembro de 1822, às margens do rio Ipiranga.

Independência da Bahia



A Independência da Bahia: um dos mais intensos episódios de luta contra a dominação portugesa no Brasil.
A declaração de independência feita por Dom Pedro I, em sete de setembro de 1822, deu início a uma série de conflitos entre governos e tropas locais ainda fiéis ao governo português e as forças que apoiavam nosso novo imperador. Na Bahia, o fim do domínio lusitano já se fez presente no ano de 1798, ano em que aconteceram as lutas da Conjuração Baiana.

No ano de 1821, as notícias da Revolução do Porto reavivaram as esperanças autonomistas em Salvador. Os grupos favoráveis ao fim da colonização enxergavam na transformação liberal lusitana um importante passo para que o Brasil atingisse sua independência. No entanto, os liberais de Portugal restringiam a onda mudancista ao Estado português, defendendo a reafirmação dos laços coloniais.

As relações entre portugueses e brasileiros começaram a se acirrar, promovendo uma verdadeira cisão entre esses dois grupos presentes em Salvador. Meses antes da independência, grupos políticos se articulavam pró e contra essa mesma questão. No dia 11 de fevereiro de 1822, uma nova junta de governo administrada pelo Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo deu vazão às disputas, já que o novo governador da cidade se declarava fiel a Portugal.

Utilizando autoritariamente as tropas a seu dispor, Madeira de Melo resolveu inspecionar as infantarias, de maioria brasileira, no intituito de reafirmar sua autoridade. A atitude tomada deu início aos primeiros conflitos, que se iniciaram no dia 19 de fevereiro de 1822, nas proximidades do Forte de São Pedro. Em pouco tempo, as lutas se alastraram para as imediações da cidade de Salvador. Mercês, Praça da Piedade e Campo da Pólvora se tornaram os principais palcos da guerra.

Nessa primeira onda de confrontos, as tropas lusitanas não só enfrentaram militares nativos, bem como invadiram casas e atacaram civis. O mais marcante episódio de desmando ocorreu quando um grupo português invadiu o Convento da Lapa e assassinou a abadessa Sóror Joana Angélica, considerada a primeira mártir do levante baiano. Mesmo com a derrota nativista, a oposição ao governo de Madeira de Melo aumentava.

Durante as festividades ocorridas na procissão de São José, de 21 de março de 1822, grupos nativistas atiraram pedras contra os representantes do poderio português. Além disso, um jornal chamado “Constitucional” pregava oposição sistemática ao pacto colonial e defendia a total soberania política local. Em contrapartida, novas forças subordinadas a Madeira de Melo chegavam a Salvador, instigando a debandada de parte da população local.

Tomando outros centros urbanos do interior, o movimento separatista ganhou força nas vilas de São Francisco e Cachoeira. Ciente destes outros focos de resistência, Madeiro de Melo enviou tropas para Cachoeira. A chegada das tropas incentivou os líderes políticos locais a mobilizarem a população a favor do reconhecimento do príncipe regente Dom Pedro I. Tal medida verificaria qual a postura dos populares em relação às autoridades lusitanas recém-chegadas.

O apoio popular a Dom Pedro I significou uma afronta à autoridade de Madeira de Melo, que mais uma vez respondeu com armas ao desejo da população local. Os brasileiros, inconformados com a violência do governador, proclamaram a formação de uma Junta Conciliatória e de Defesa instituída com o objetivo de lutar contra o poderio lusitano. Os conflitos se iniciaram em Cachoeira, tomaram outras cidades do Recôncavo Baiano e também atingiram a capital Salvador.

As ações dos revoltosos ganharam maior articulação com a criação de um novo governo comandado por Miguel Calmon do Pin e Almeida. Enquanto as forças pró-independência se organizavam pelo interior e na cidade de Salvador, a Corte Portuguesa enviou cerca de 750 soldados sob a lideranaça do general francês Pedro Labatut. As principais lutas se engendraram na região de Pirajá, onde independentes e metropolitanos abriram fogo uns contra os outros.

Devido à eficaz resitência organizada pelos defensores da independência e o apoio das tropas lideradas pelo militar britânico Thomas Cochrane, as tropas fiéis a Portugal acabaram sendo derrotadas em 2 de julho de 1823. O episódio, além de marcar as lutas de independência do Brasil, motivou a criação de um feriado onde se comemora a chamada Independência da Bahia.

Guerras de Independência



As guerras de independência foram cruciais para o fim do domínio português.
Ao contrário do que representa as imagens que fazem alusão à independência do Brasil, o reconhecimento político do governo de Dom Pedro I não foi obtido por vias pacíficas. Ainda fiéis às autoridades de Lisboa, alguns governadores da província fizeram oposição ao processo de independência do Brasil. Ao saber dos movimentos contrários ao seu governo, Dom Pedro I ordenou a aquisição de navios e a contratação de militares. A partir daí, diversas tropas foram organizadas com o objetivo de consolidar os territórios e a supremacia política do novo país.

Na Bahia, o brigadeiro Inácio Madeira de Melo não reconheceu o governo de Dom Pedro. Em contrapartida, a Câmara de Vila da Cachoeira manifestou seu apoio à nova autoridade imperial e pediu auxílio militar contra Madeira de Melo. Em resposta, o governo enviou algumas centenas de homens comandados pelo comandante Rodrigo Antônio de Lamare. Nesse meio tempo, Madeira de Melo havia recebido o apoio de tropas vindas de Portugal. As tropas brasileiras buscaram reforço de outros combatentes localizados em Alagoas e Pernambuco.

Em menor número, as tropas brasileiras cercaram a cidade de Salvador, tentando acabar com os suprimentos que mantinham as tropas lusitanas na região. Do lado de Dom Pedro I, o almirante britânico lorde Cochrane apertou o cerco a Salvador bloqueando as vias de acesso marítimo. Prevendo que não resistiria por muito tempo, Madeira de Melo acabou cedendo às pressões das tropas brasileiras e abandonou o país rumo a Portugal.

Na província do Piauí, as autoridades também fizeram oposição ao novo governo, enquanto outros grupos simpatizavam com o governo de Dom Pedro I. O então governador João José da Cunha Fidié enviou tropas para combater um levante patriota organizado na vila de São João da Paraíba. Derrotados pelo governador, os revoltosos pediram a ajuda da Junta Governativa do Ceará. Mesmo tendo derrotado algumas das sublevações patriotas, Fidié logo não resistiu aos novos ataques de Dom Pedro I e se rendeu em 26 de julho de 1823.

No mês de junho de 1822, tropas da região da Cisplatina haviam declarado sua total fidelidade ao governo de Portugal. Liderados por Álvaro da Costa de Sousa Machado, as tropas da cidade de Montevidéu não prestaram contas à Dom Pedro I. Em contrapartida, o então Barão de Laguna, Carlos Frederico Lecor declarou seu apoio a Dom Pedro I. Estava assim instituída a rivalidade entre as forças militares da região sul do país.

Em pouco tempo, o Barão de Laguna mobilizou tropas para obrigar Álvaro da Costa a reconhecer a independência do Brasil. Em outubro de 1823, navios brasileiros fizeram a interdição do Rio da Prata, a única saída marítima da província da Cisplatina. Sem o reforço militar de Portugal, Álvaro da Costa firmou um acordo com as tropas imperiais de Dom Pedro I e bateu-se em retirada rumo a Lisboa, dando fim aos combates pela independência do Brasil.

Fim do Primeiro Reinado



Dom Pedro I, autoritarismo à frente do governo.
Ao ascender como chefe supremo do Estado monárquico do Brasil, Dom Pedro I chegou ao poder para atender aos anseios de uma elite temerosa em perder todas as liberdades políticas e econômicas alcançadas durante o governo de Dom João VI. Dessa forma, Dom Pedro I tinha sua base de sustentação política situada entre os comerciantes e proprietários de terra do período.

No entanto, as contradições geradas entre a estabilidade do novo poder e os interesses das elites acabaram por esfacelar esse acordo político que conferia legitimidade ao Primeiro Reinado. Em outras palavras, o forte caráter centralizador do governo de D. Pedro I gerou conflito entre o novo estadista e as elites que defenderam sua chegada ao poder.

Durante a própria elaboração da Carta Constitucional, as relações entre os membros da Assembléia Constituinte e Dom Pedro I iniciaram a crise do Primeiro Reinado. Impassível ao texto constitucional elaborado em 1823, D. Pedro resolveu dissolver a assembléia e ele mesmo, junto de um pequeno grupo de aliados, redigir a primeira constituição do Brasil.

Em 1824, o governo imperial outorgou a Constituição Brasileira. Segundo o seu texto, os poderes políticos estavam divididos em três grades frentes (Legislativo, Executivo e Judiciário) que se subordinariam à presença de um quarto poder, designado Poder Moderador. Tal poder seria exercido pelo imperador e, utilizando seus atributos, o rei poderia anular qualquer outra decisão estabelecida pelos demais poderes.

O excessivo poder abocanhado por Dom Pedro foi alvo de protestos e da insatisfação da maioria dos representantes políticos da época, em sua maioria, ligados ao interesse das elites. Ao mesmo tempo, a forte presença lusa nas cadeiras do governo e o envolvimento do rei com as questões políticas de Portugal – como no caso da sucessão do trono português – colocavam sob desconfiança o comprometimento de Dom Pedro I em defender os interesses da nação brasileira.

Não bastassem os desentendimentos políticos, a falta de arrojo do rei junto às questões econômicas também contribuiu para sua queda. A contração de dívidas com a Inglaterra e o gasto de verbas com a Guerra da Cisplatina fortaleceram o movimento oposicionista. Em 1829, a falência do Banco do Brasil agravou o repúdio aos poderes imperiais. Dessa forma, a vitória dos oposicionistas, em 1830, dava sinais do enfraquecimento político de Dom Pedro I.

Aliada às críticas referentes ao seu governo, outro escândalo piorou a imagem do imperador. Em 1830, o assassinato do oposicionista Libero Badaró provocou uma onda de ataques contra Dom Pedro I. Segundo alguns jornais da época, a falta de uma investigação detalhada sobre o crime seria um forte indício do envolvimento do rei com a morte de Badaró.

No Rio de Janeiro, vários confrontos entre brasileiros e portugueses representavam a falta de reconhecimento ao governo imperial. A Noite das Garrafadas, ocorrida no início 1831, ficou marcada como a maior dessas manifestações anti-lusitanas. Ainda tentando recuperar prestígio, em março daquele ano, Dom Pedro I anunciou um corpo de ministros formado somente por brasileiros.

A manobra de Dom Pedro I já era tardia. Os militares aderiram ao movimento de oposição ao seu governo e a câmara dos deputados se tornou um reduto de críticas à presença do rei. Procurando retaliar os revoltosos, Dom Pedro dissolveu seu conselho de ministros e formou um novo conselho dominado por portugueses.

Sem alcançar o êxito esperado, um grupo de soldados e populares concentrados no Campo de Santana ameaçaram a integridade de Dom Pedro I. Mediante a embaraçosa situação, o imperador abdicou do trono no dia sete de abril de 1831.

Dom Pedro


A vinda da família real portuguesa para o Brasil foi importante para a independência política brasileira, neste processo destaca-se a figura de Dom Pedro, imperador do Brasil.

Dom Pedro, de príncipe regente a imperador do Brasil 


Dom Pedro, de príncipe regente a imperador do Brasil

Pedro de Alcântara, mais conhecido como Dom Pedro, nasceu em Portugal no dia 12 de outubro de 1798, filho de Dom João VI e dona Carlota Joaquina.  Segundo alguns historiadores, Dom Pedro nasceu na transição de dois tempos: o fim do absolutismo e o começo do liberalismo político. As suas ideias refletiam as mudanças que ocorriam na Europa (Revolução Francesa), mas não se desvencilhava da corte absolutista na qual crescera. 
No ano de 1808, a Coroa portuguesa, juntamente com 10 mil pessoas, entre elas a família real, a nobreza, os funcionários públicos e os empregados domésticos, embarcou para o Brasil sob ameaça da invasão francesa ao território português. O que se efetivou com o Bloqueio Continental que o Imperador francês Napoleão Bonaparte submeteu Portugal.    
No momento da fuga para o Brasil, a família real, juntamente com seus “convidados”, foram protegidos em alto mar pela esquadra inglesa (a Inglaterra era inimiga secular da França). No ano de 1820, eclodiu a Revolução do Porto em Lisboa, os portugueses reivindicaram o retorno de Dom João VI para assumir o trono português.
Sem ter o que fazer, Dom João VI retornou a Portugal, deixando o seu filho Dom Pedro como príncipe regente do Brasil. No momento em que retornou a Portugal, o rei viu o Governo Provisório convocar as Cortes (Assembleia Nacional, o Parlamento) para elaboração de uma Constituição para Portugal que seria aplicada às colônias portuguesas.
Os deputados portugueses, com a escrita da Constituição, desejavam instituir uma Monarquia Constitucional Liberal para Portugal e, ao mesmo tempo, queriam reestabelecer o pacto colonial no Brasil, como o retorno ao sistema de monopólio comercial, fechar os portos ao comércio estrangeiro (principalmente da Inglaterra), ou seja, queria efetivar uma recolonização (volta à condição de colônia) do Brasil.
Os brasileiros, temerosos com as ameaças, recusaram a obedecer às imposições do Parlamento português e rapidamente surgiu um forte desejo pela independência do Brasil. A liberdade de imprensa brasileira conquistada com a vinda da família real, logo propiciou a disseminação entre a população, as ameaças que o Brasil vinha sofrendo de Portugal, e publicavam notícias de várias independências de países latino-americanos, incentivando a crescente insurreição da população brasileira para a luta da independência.
O papel da imprensa no processo de independência do Brasil se configurou como um importante aspecto, alguns historiadores questionam essa importância da imprensa, pois acreditavam que a maioria da população era analfabeta, por essa razão, a população não conhecia os ideais que os jornais disseminavam. Ao mesmo tempo, a historiadora Isabel Lustosa¹ não questiona a quantidade de analfabetos, mas ressalta que os jornais tiveram sua importância: “conta-se que muitos jornais e panfletos eram lidos em voz alta nas praças, casas e nos botequins”, disseminando assim as ideias para independência entre as camadas populares.
Assim que os deputados portugueses exigiram o retorno de Dom Pedro a Portugal, os brasileiros insatisfeitos com as medidas adotadas por Portugal entregaram ao príncipe regente um abaixo assinado com oito mil assinaturas solicitando a sua permanência. Após ter recebido a lista de assinaturas, Dom Pedro proclamou a sua permanência: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto. Diga ao povo que eu fico”. A partir de então, este fato que aconteceu no dia 09 de janeiro de 1822, ficou conhecido como o dia do “fico”.
O príncipe regente, declarando a permanência no Brasil, contrariou os grupos que apoiavam a política portuguesa, esse grupo era formado principalmente por portugueses comerciantes que viviam na cidade do Rio de Janeiro. Logo após ter expressado a vontade de ficar no Brasil, Dom Pedro nomeou José Bonifácio de Andrada (intelectual formado em Direito e Filosofia na Universidade de Coimbra, Portugal) para ministro do Reino e Estrangeiros e determinou que as medidas das Cortes portuguesas não tivessem validade no Brasil.
Em contraposição às medidas determinadas por Dom Pedro, os deputados portugueses enviaram despachos de Lisboa anulando os atos políticos adotados pelo príncipe regente e intimou-o a voltar imediatamente para Portugal. No momento que tais despachos chegaram ao Brasil, Dom Pedro se encontrava em Santos, onde resolvia alguns problemas políticos. Em retorno para o Rio de Janeiro, às margens do rio Ipiranga em São Paulo, a comitiva do príncipe encontrou-se com o mensageiro que levava as mensagens vindas de Portugal. Naquele mesmo local, Dom Pedro proclamou a Independência política do Brasil: “É tempo: independência ou morte! Estamos separados de Portugal!”. 
Após a proclamação de Independência, no dia 12 de outubro de 1822, Dom Pedro foi nomeado imperador do Brasil em cerimônia realizada no dia 1º de dezembro, iniciando o período denominado de Primeiro Reinado (1822-1831). Este período ficou marcado pelas alianças políticas que o imperador manteve com uma elite conservadora, de grandes proprietários de terras, conservou alguns ministros de ideias liberais que apoiaram a Independência: José Clemente Pereira e Joaquim Gonçalves Lêdo, que faziam veemente oposição a José Bonifácio, acusando-o de ser conservador.
No ano de 1824, os Estados Unidos reconheceram a Independência do Brasil, em 1825 Portugal assinou um acordo por pressão inglesa reconhecendo a autonomia política brasileira, em troca Portugal solicitou um pagamento de dois milhões de libras esterlinas inglesas por parte do Brasil. Com enormes problemas financeiros, Dom Pedro contraiu uma dívida com a Inglaterra para pagar esta quantia solicitada por Portugal.
Em 1823, Dom Pedro convocou a Assembleia Constituinte formada por grandes proprietários de terra, comerciantes, magistrados, bacharéis e militares para redação da Constituição brasileira, a partir deste momento, iniciaram conflitos políticos entre uma elite liberal contra outra conservadora. Neste ínterim, Dom Pedro, receoso de ter seu poder enfraquecido, temeu uma Constituição de cunho liberal, então resolveu dissolver a Assembleia Constituinte, prendendo e expulsando do Brasil alguns políticos - entre eles José Bonifácio de Andrada.
Desde então, o partido português, formado por comerciantes lusitanos (eram contrários à independência), ganhou a simpatia do imperador. Para amenizar as divergências políticas, Dom Pedro nomeou um grupo de dez pessoas para redigir a Constituição que foi outorgada no ano de 1824. A primeira Constituição brasileira estipulava que o país era uma monarquia hereditária, a religião oficial era a católica, o voto era censitário, ou seja, somente uma elite financeira poderia votar e o principal poder seria o Moderador, exercido pelo monarca.
Com a Constituição de 1824, grande parte da população composta pela classe média, pobres, mestiços e escravos permanecia marginalizada politicamente, socialmente e economicamente. Houve neste momento uma crescente impopularidade do imperador, em 1824, iniciou-se em Pernambuco um movimento contrário à política de Dom Pedro, a chamada Confederação do Equador (de cunho separatista, queriam separar do Brasil) que rapidamente alcançou outras províncias do nordeste: Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Rapidamente, o imperador, temeroso de o movimento ganhar grandes proporções, decidiu esmagar e castigar violentamente os líderes.
As violentas medidas adotadas pelo imperador só serviram para desgastar a sua imagem perante a sociedade. Outro fato que ocasionou a insatisfação popular de Dom Pedro foi a Guerra Cisplatina (1825-1828), onde o Brasil mantinha incorporado ao seu território a Província Cisplatina (atual Uruguai) anexada durante a regência de Dom João VI. A luta pela província desencadeou uma guerra contra a Argentina que reivindicava a incorporação deste território. Esta província tornou-se um país independente chamado Uruguai.
Com a crescente insatisfação popular, os gastos com os massacres empreendidos durante os conflitos contra a Confederação do Equador e a Guerra Cisplatina, o povo passou por muitas dificuldades, com a aproximação do imperador ao partido português, a elite proprietária de terra brasileira temeu a recolonização do Brasil, o país passou por intensas crises financeiras, o Banco do Brasil decretou falência em 1829.
A imprensa brasileira publicava duras críticas ao imperador e, assim, iniciou-se crescentes agitações populares nas províncias. No ano de 1831, no dia 7 de abril, o Imperador abdicou do trono e retornou a Portugal (lá morreu acometido por tuberculose no ano de 1834). Como a monarquia era hereditária, seu filho Pedro de Alcântara, com apenas cinco anos na época, passou ser o herdeiro do trono. Com este fato, findou o Primeiro Reinado no Brasil, iniciando outra fase da história brasileira, o Período Regencial (1831-1840).

Carlota Joaquina


 Nasceu em 1775, e morreu em 1830, rainha de Portugal e do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, nasceu em Aranjuez, Espanha e faleceu em Queluz, Portugal. 


Filha do rei Carlos IV da Espanha, casou-se com o príncipe D. João de Portugal, posteriormente, D. João VI. De temperamento difícil e voluntarioso, teve muitos conflitos com o marido e com autoridades portuguesas, sobretudo após D. João ter se tornado regente, em 1792, em substituição à rainha Maria I, sua mãe, que se encontrava enferma. Tanto no Brasil como em Portugal combateu sistematicamente as ideias revolucionárias vindas da França. Em 1807 foi obrigada, devido à invasão das tropas napoleônicas, a embarcar para o Brasil com o marido, os filhos e o restante da Corte. 

Vivendo no Brasil de 1808 a 1821 e tendo seu país natal, a Espanha, também sido ocupado por Napoleão I, concebeu um plano para governar as colônias espanholas. O projeto fracassou, inclusive pela falta de interesse de D. João. Tornou-se rainha, em 1816, com a ascensão de D. João VI ao trono. Sempre fiel às concepções ultraconservadoras, ao retornar a Portugal dedicou-se, com seu filho D. Miguel, a conspirar contra as cortes que haviam realizado a revolução liberal. Após a morte de D. João apoiou o movimento absolutista que permitiu a ascensão de D. Miguel ao trono.

Amélia


Amélia de Leuchtenberg era filha de Eugenio de Beauharnais e de Augusta Amélia, filha de Maximiliano José, rei da Baviera. Eram seus irmãos, Augusto, que mais tarde casou-se com Maria da Glória, Maximiliano Eugênio, Theodolinde e Caroline. Após a morte da Imperatriz Leopoldina, D. Pedro mandou para a Europa como emissário especial, o Marques de Barbacena para uma difícil missão: arrumar-lhe uma nova esposa.
Ela teria que ser de uma alta linhagem, ser bonita, educada e jovem. Difícil missão porque a fama de D. Pedro na Europa não estava boa, todos comentando suas relações com a Marquesa de Santos e as humilhações imposta por ele à sua falecida esposa Leopoldina.
Mas o Marquês logrou êxito de sua missão com a aceitação de uma linda princesa da Bavária de 17 anos. Ela tinha todas as qualidades exigidas por D. Pedro. Além de ser neta do rei da Bavária pelo lado materno, era neta pelo lado paterna da Imperatriz Josephine primeira esposa de Napoleão. Seu pai era o conde de Leuchtenberg, Eugenio de Beauharnais, filho adotivo de Napoleão Bonaparte. Ela era, portanto a sua neta adotiva.
O marques de Barbacena, com sua comitiva, a princesa Amélia e seu irmão Augusto de 19 anos viajaram por terra de Munique até o litoral da Bélgica, lá tomando a fragata Imperatriz comandada pelo Vice Almirante brasileiro, Conde de Souzel.
A fragata dirigiu-se inicialmente para Portsmouth na Inglaterra para pegar a filha de D. Pedro, Maria da Glória, com 10 anos, que se encontrava na Europa para estudos.
Após uma longa viagem sem incidentes, a fragata aportou no Rio de Janeiro no dia 16 de Outubro de 1829.
No dia 17 o casal recebeu as benções nupciais da igreja e Amélia tornou-se a segunda imperatriz do Brasil. Para comemorar este fato foi criada a comenda Ordem da Rosa para condecorar militares e civis. Após dois anos de casados, a situação de D. Pedro como imperador estava ficando crítica, com movimentos de revoltas tanto na área civil como militar. Aliando estes fatos com a usurpação do trono de Portugal por D. Miguel, no dia 7 de Abril de 1831, D. Pedro abdicou em favor de seu filho Pedro II que estava com cinco anos, deixando como seu tutor, José Bonifácio e partiu juntamente com sua esposa e a filha Maria da Glória para Europa.
Amélia estava grávida de três meses de Maria Amélia e sofreu muito com enjôos na viagem. O primeiro porto a ser alcançado foi de Faial, nos arquipélagos de Açores. Após reabastecer, o navio seguiu rumo ao porto de Cherburg, França. Lá estudaram a estratégia da revolução e decidiram que o melhor lugar para estes preparativos era a Inglaterra e partiram para Londres.
No dia 31 de Novembro de 1831 nasceu Maria Amélia. D. Pedro, que havia organizado uma pequena esquadra, mal armada e caindo aos pedaços, conseguiu conquistar a cidade de Porto, mas por um preço muito alto: mais de 4.000 mortos, mais da metade de seus 7.500 homens.
Com a chegada de reforços da esquadra inglesa, seus homens conseguiram derrotar as tropas fiéis à D. Miguel que fugiu para a França, acabando também a pretensão da Princesa Ludovika de casar-se com ele. D. Amélia ajudou a criar a sua enteada Maria da Glória e também a filha de D. Pedro com a Marqueza de Santos, Isabel Maria.
Em 20 de Setembro de 1834 - Morre D. Pedro vitimado pela tuberculose. No dia 4 de Fevereiro de 1854 morre também vítima de tuberculose a sua filha, Maria Amélia com 23 anos. Ela estava noiva do príncipe Maximilian Habsburg, sobrinho da imperatriz Leopoldina do Brasil. No dia 26 de Janeiro de 1876 morre Amélia aos 64 anos. 

A regência de Dom Pedro I



Dom Pedro obteve apoio político para capitanear o processo de independência do Brasil.
Entre os anos de 1821 e 1822, Dom Pedro I ocupou o cargo de príncipe regente do Brasil. Mesmo durando um breve período de tempo, o governo provisório de Dom Pedro foi marcado por um conjunto de transformações bastante intensas. Na época, seu pai, Dom João VI havia deixado o governo em suas mãos para participar do processo de reforma política que tomava conta de Portugal, desde 1820. Aqui no Brasil, essa mesma notícia teve importantes conseqüências históricas.

A chegada de Dom João VI ao Brasil, em 1808, mais do que marcar a transferência de uma Corte Real, transformou radicalmente a condição da economia brasileira. Desobrigada de manter negócios somente com Portugal, os grandes produtores agrícolas brasileiros atingiram marcas de lucro mais significativas com a inserção de seus produtos no livre-mercado. Além disso, a chegada dos produtos ingleses ao Brasil estabelecia um novo padrão de vida e consumo no país.

Durante a formação das Cortes em Portugal, os revolucionários do Porto pretendiam reestruturar a economia portuguesa. Para isso, acreditavam que a manutenção dos laços coloniais era de suma importância para o fortalecimento da economia de Portugal. Isso significava a interrupção de todas as benesses materiais oferecidas pela liberdade econômica trazida com o governo de Dom João. Dessa forma, os aristocratas brasileiros formaram o Partido Brasileiro com o intuito de mobilizar forças que preservassem seus interesses de ordem econômica.

Uma das primeiras medidas desse novo partido foi agrupar um conjunto de assinaturas que exigiam a permanência de Dom Pedro no Brasil. Essa manifestação exigindo apoio de Dom Pedro, era uma resposta ao pedido formal das cortes portuguesas que reivindicavam o retorno do príncipe regente para Portugal. Vislumbrando o controle político sobre o território brasileiro, Dom Pedro I, em 9 de janeiro de 1822, declarou sua fidelidade aos brasileiros no pronunciamento que ficou conhecido como Dia do Fico.

Logo em seguida, Dom Pedro demitiu todos os portugueses que fazia parte de seu conselho de ministros e formou um novo conselho formado somente por brasileiros. Em maio de 1822, os ministros brasileiros instituíram o chamado “Cumpra-se”. De acordo com tal medida, qualquer ordem vinda de Portugal só poderia ser cumprida com a aprovação prévia do príncipe regente. Reforçando o apoio a Dom Pedro I, os ministros declararam Dom Pedro como “defensor perpétuo do Brasil”.

Em junho de 1822, Dom Pedro resolveu compor uma Assembléia Constituinte que deveria formar um conjunto de leis básicas a serem aplicadas em todo território nacional. Tal medida colocava em evidência a diferença de interesses entre Brasil e Portugal. Em agosto, o governo português enviou um novo decreto anulando as decisões tomadas pelo príncipe regente e exigindo seu imediato retorno.

Aconselhado por José Bonifácio e sua esposa, Dona Leopoldina, Dom Pedro não via alternativa a não ser a declaração de independência. Naquela mesma tarde de 7 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga, Dom Pedro I proclamou o Brasil um país independente de Portugal.

A Guerra do Paraguai



A Batalha do Riachuelo, um dos mais sangrentos episódios da Guerra do Paraguai.
No século XIX, as nações americanas emancipadas após a crise do sistema colonial se lançaram ao desafio de estabelecerem a soberania política e econômica de seus territórios. Essa seria uma tarefa bastante difícil, pois passados séculos de dominação colonial, esses novos países teriam que enfrentar os desafios estabelecidos pelo capitalismo industrial e financeiro do período.

Segundo alguns estudiosos, o processo de independência das nações latino-americanas não significou o fim da subserviência política e da dependência econômica. Sob outros moldes, esses países ainda estavam presos a instituições corruptas e à antiga economia agroexportadora. Contrariando essa tendência geral, durante o século XIX, o Paraguai implementou um conjunto de medidas que buscavam modernizar o país.

Nos governos de José Francia (1811-1840) e Carlos López (1840-1862) o analfabetismo foi erradicado do país e várias fábricas foram instaladas com o subsídio estatal. Além disso, melhorou o abastecimento alimentício com uma reforma agrária que reestruturou a produção agrícola paraguaia ao dar insumos e materiais para que os camponeses produzissem. Esse conjunto de medidas melhorou a condição de vida da população e fez surgir uma indústria autônoma e competitiva.

No ano de 1862, Solano López chegou ao poder com o objetivo de dar continuidade às conquistas dos governos anteriores. Nessa época, um dos grandes problemas da economia paraguaia se encontrava na ausência de saídas marítimas que escoassem a sua produção industrial. Os produtos paraguaios tinham que atravessar a região da Bacia do Prata, que abrangia possessões territoriais do Brasil, Uruguai e Argentina.

Segundo alguns historiadores, essa travessia pela Bacia do Prata era responsável, vez ou outra, pela deflagração de inconvenientes diplomáticos entre os países envolvidos. Visando melhorar o desempenho de sua economia, Solano pretendia organizar um projeto de expansão territorial que lhe oferecesse uma saída para o mar. Dessa maneira, o governo paraguaio se voltou à produção de armamentos e a ampliação dos exércitos que seriam posteriormente usados em uma batalha expansionista.

No entanto, outra corrente historiográfica atribuiu o início da guerra aos interesses econômicos que a Inglaterra tinha na região. De acordo com essa perspectiva, o governo britânico pressionou o Brasil e a Argentina a declararem guerra ao Paraguai alegando que teriam vantagens econômicas e empréstimos ingleses caso impedissem a ascensão da economia paraguaia. Com isso, a Inglaterra procurava impedir o aparecimento de um concorrente comercial autônomo que servisse de modelo às demais nações latino-americanas.

Sob esse clima de tensão, a Argentina tentava dar apoio à consolidação de um novo governo no Uruguai favorável ao ressurgimento do antigo Vice Reinado da Prata, que englobava as regiões da Argentina, do Paraguai e Uruguai. Em contrapartida, o Brasil era contra essa tendência, defendendo a livre navegação do Rio da Prata. Temendo esse outro projeto expansionista, posteriormente defendido por Solano López, o governo de Dom Pedro II decidiu interceder na política uruguaia.

Após invadir o Uruguai, retaliando os políticos uruguaios expansionistas, o governo brasileiro passou a ser hostilizado por Solano, que aprisionou o navio brasileiro Marquês de Olinda. Com esse episódio, o Brasil decidiu declarar guerra ao Paraguai. A Inglaterra, favorável ao conflito, concedeu empréstimos e defendeu a entrada da Argentina e do Uruguai na guerra.

Em 1865, Uruguai, Brasil e Argentina formaram a Tríplice Aliança com o objetivo de aniquilar as tropas paraguaias. Inicialmente, os exércitos paraguaios obtiveram algumas vitórias que foram anuladas pela superioridade do contingente militar e o patrocínio inglês da Tríplice Aliança.

Mesmo assim, as boas condições estruturais e o alto grau de organização dos exércitos paraguaios fizeram com que a guerra se arrastasse por cinco anos. Somente na série de batalhas acontecidas entre 1868 e 1869, que os exércitos da Tríplice Aliança garantiram a rendição paraguaia.

O saldo final da guerra foi desastroso. O Paraguai teve cerca de 80% de sua população de jovens adultos morta. O país sofreu uma enorme recessão econômica que empobreceu o Paraguai durante muito tempo. Com o final da guerra, o Brasil conservou suas posses na região do Prata.

Em contrapartida, o governo imperial contraiu um elevado montante de dívidas com a Inglaterra e fez do Exército uma instituição interessada em interferir nas questões políticas nacionais. A maior beneficiada com o conflito foi a Inglaterra, que barrou o aparecimento de uma concorrente comercial e lucrou com os juros dos empréstimos contraídos.

A criação do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro



Capa da Revista do IHGB: um marco significativo da escrita do nosso passado.
Em 1838, a historiografia brasileira ganhou uma nova página de sua trajetória quando, naquele ano, foi feita a inauguração do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, na data de dois de outubro. Formada com o apoio do brigadeiro Raimundo de Cunha Mattos e do cônego Januário da Cunha Barbosa, tal instituição estabelecia o desenvolvimento de uma escrita de nosso passado realizada justamente após a consolidação de nossa independência em relação a Portugal.
Além de marcar um momento de autonomia, tal marco teve suma importância na orientação das pesquisas feitas pelo instituto e em um estilo de escrita compromissado com a formação de uma identidade. No mesmo tempo em que havia ânsia de se pensar e identificar nossa nação através do estudo do passado, o instituto também questionava, desde sua criação, se as informações então disponíveis sobre nossa experiência histórica eram confiáveis e que lacunas ainda deveriam ser preenchidas.
Sob tal aspecto, percebemos que a revisão seria uma das grandes missões a serem abraçadas pelo instituto. No entanto, essa preocupação não girava simplesmente em torno de uma historiografia nacional. Em muitos momentos, ela seria dotada de uma idoneidade facilmente confundida com o compromisso patriótico. Apesar disso, o IHGB ofereceu um trabalho de busca e organizações de documentos, sem os quais essa nova proposta não teria as condições necessárias para sua rigorosa execução.
No que tange a formação de uma identidade nacional, o IHGB aparece como uma alternativa capaz de identificar e constar a vida dos heróis que seriam vinculáveis ao projeto de desenvolvimento de nossa pátria. Com isso, dialogando com os parâmetros historiográficos alemães, os fundadores do instituto reconhecem um poder didático na apreciação do passado. Olham a história como instrumento significativo para o alcance de uma nação capaz de aprender e se aprimorar com o que já viveu.
Desde seu início, o IHGB buscou realizar sua missão institucional com a publicação da Revista do IHGB, que esteve preocupada em vasculhar a colonização. Além disso, observamos a promoção de conferências e cursos, a organização de um arquivo e uma biblioteca voltada ao público. De tal modo, entre as pretensões, limites, conceitos e problemas do olhar histórico da época, o IHGB contribuiu para que novas possibilidades sobre a historiografia brasileira surgissem.

A Confederação do Equador


Frei Caneca, um dos líderes populares morto pela autoridade imperial. 
Frei Caneca, um dos líderes populares morto pela autoridade imperial.

O autoritarismo que marcou o processo de outorga da Constituição de 1824 inaugurou uma fase na história política do Brasil, onde a centralização política se transformou em uma prática severamente questionada. Mesmo contando com alguns princípios de natureza liberal, a Constituição de 1824 também foi marcada por uma série de dispositivos contrários ao seu aparente liberalismo. A centralização dos poderes acabava gerando a insatisfação de muitos dos representantes políticos do período.
Tomado por essa orientação contraditória de sua carta constitucional, o governo de Dom Pedro I acabou sendo alvo de diversos ataques políticos bem como de revoltas. Naquele mesmo ano, inspirados pelos levantes de 1817, um grupo de habitantes de Pernambuco iniciou um movimento antimonarquista. Tal oposição originou-se nas constantes crises da economia regional e as cargas tributárias impostas pelo governo.

Como se não bastasse sua situação desoladora, os pernambucanos sentiram o peso do autoritarismo real quando D. Pedro I depôs o então governador, Manuel de Carvalho Paes de Andrade, e indicou um substituto para o cargo. A troca do governo seria o último episódio que antecedeu a formação do movimento que ficou conhecido como Confederação do Equador, esse ganhou tal nome em razão de sua proximidade geográfica com a Linha do Equador.

A Confederação, que se iniciou com a ação de lideranças e populares pernambucanos, logo tomou corpo e conseguiu a adesão de outros estados do nordeste. Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba também se juntaram ao movimento. Impassíveis às tentativas de negociação do Império, os revoltosos buscaram criar uma constituição de caráter republicano e liberal. Além disso, o novo governo resolveu abolir a escravidão e organizou forças contra as tropas imperiais.

Depois de estabelecidas as primeiras ações da Confederação, alguns de seus líderes decidiram abandoná-la. Tudo isso porque alguns integrantes da revolta defendiam a radicalização de algumas ações do novo governo. Frei Caneca, Cipriano Barata e Emiliano Munducuru acreditavam que a ampliação de direitos políticos e reformas no campo social eram medidas urgentes no novo poder estabelecido. Com isso, os integrantes da elite que apoiaram a Confederação se retiraram do levante.

De outro lado, o governo imperial tomou medidas severas contra o movimento separatista. Dom Pedro I pediu empréstimos à Inglaterra e contratou mercenários ingleses para que lutasse contra os revoltosos. Não resistindo ao enfraquecimento interno do movimento e a dura reação imperial, a Confederação do Equador teve seu fim. Dezesseis envolvidos foram acusados e executados pelas instituições judiciárias do Império. Entre eles, Frei Caneca teve como pena a morte por fuzilamento.

Revolução Praieira



Revolução Praieira: o levante que se pôs contra o governo de Dom Pedro II.
No começo do Segundo Reinado, a ascensão dos liberais que apoiaram a chegada de Dom Pedro II ao poder foi logo interceptada após os escândalos políticos da época. As “eleições do cacete” tomaram os noticiários da época com a denúncia das fraudes e agressões físicas que garantiriam a vitória da ala liberal. Em resposta, alguns levantes liberais em Minas e São Paulo foram preparados em repúdio às ações políticas centralizadoras do imperador.

Nesses dois estados os levantes não tiveram bastante expressão, sendo logo contidos pelas forças militares nacionais. Entretanto, o estado de Pernambuco foi palco de uma ação liberal de maior impacto que tomou feições de caráter revolucionário. Ao longo da década de 1840, setores mais radicais do partido liberal recifense manifestaram seus idéias através do jornal Diário Novo, localizado na Rua da Praia. Em pouco tempo, esses agitadores políticos ficaram conhecidos como “praieiros”.

Entre as principais medidas defendidas por esses liberais estavam a liberdade de imprensa, a extinção do poder moderador, o fim do monopólio comercial dos portugueses, mudanças sócio-econômicas e a instituição do voto universal. Mesmo não tendo caráter essencialmente socialista, esse grupo político era claramente influenciado por socialistas utópicos do século XIX, como Pierre–Joseph Proudhon, Robert Owen e Charles Fourier.

Em 1847, o movimento passou a ganhar força com a nomeação de um presidente de província conservador mineiro para conter a ação dos liberais pernambucanos. Revoltados com essa ação autoritária do poder imperial, os praieiros pegaram em armas e tomaram conta da cidade de Olinda. A essa altura, um conflito civil contando com o apoio de grandes proprietários, profissionais liberais, artesãos e populares tomou conta do estado.

Em fevereiro de 1849, os rebelados tomaram a cidade de Recife e entraram em novo confronto com as forças imperiais. Nesse período, o insurgente Pedro Ivo surgiu como um dos maiores líderes dos populares. Entretanto, a falta de apoio de outras províncias acabou desarticulando o movimento pernambucano. No ano de 1851, o governo imperial deu fim aos levantes que contabilizaram cerca de oitocentas baixas.

Revolta do Vintém



A Revolta do Vintém mobilizou setores médios e baixos da população do Rio de Janeiro.
No final de 1879, a cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil Imperial, assistiu a deflagração de uma revolta de caráter eminentemente popular. Um levante de aproximadamente cinco mil manifestantes se colocou em frente o campo de São Cristóvão, sede do palácio imperial, para exigir a diminuição da taxa de vinte réis (um vintém) cobrados sobre o transporte público feito pelos bondes de tração animal que serviam a população.

Contidos pelas autoridades policiais, os revoltosos esperavam uma resposta de um dos principais líderes daquele protesto: o jornalista Lopes Trovão. O imperador, que prometia abrir negociação para resolver a contenda, teve seu pedido negado pelo jornalista republicano que adotou uma nova estratégia. Lançando seus argumentos no jornal Gazeta da Noite, Lopes Trovão convocava a população carioca a reagir com violência contra a medida imperial.

No primeiro dia do ano seguinte, data em que o valor seria oficializado, novos levantes seriam organizados pelos populares simpatizantes à causa. Mais uma vez incitados por Lopes Trovão, uma massa de revoltosos se dirigiu até o Largo do São Francisco, local de partida e chegada da maioria dos bondes. A presença de autoridades policiais só aumentou o clima de tensão instaurado. Impacientes, os revoltosos começaram a gritar “fora o vintém”, esfaquear mulas e espancar os condutores dos bondes.

Os policiais, sem condições de fazer oposição ao protesto, logo pediram o auxílio das autoridades do Exército. A chegada das tropas exaltou ainda mais os ânimos da multidão, que passou a lançar pedras contra a cavalaria oficial. Ameaçados pela turba, os oficiais abriram fogo contra a multidão. Em pouco tempo, a saraivada de tiros dispersou os manifestantes a custa de uma dezena de mortos e feridos. Passado o calor dos acontecimentos, o motim popular foi completamente desarticulado nos dias posteriores.

O alvoroço trazido pelo episódio trágico forçou as autoridades e companhias de bonde a anularem o reajuste do transporte. Na verdade, essa medida de reajuste era um reflexo das medidas orçamentárias tomadas pelo governo mediante a recessão econômica experimentada no ano de 1877. Nesse sentido, a cobrança do vintém atingia em cheio o bolso de setores médios e baixos da população do Rio de Janeiro. Mesmo não sendo uma revolta de caráter republicano, a Revolta do Vintém foi um indício das mudanças sociais, políticas e econômicas dos finais do governo de Dom Pedro II.

Revolta de Ibicaba



Os colonos eram explorados pelos contratos de parceria firmados com os grandes cafeicultores.
Durante o século XIX, as transformações econômicas no Brasil ressaltaram a necessidade de remodelar as relações de trabalho no país. A necessidade de mudança se acentuou com a proibição do tráfico negreiro instituída com as leis Bill Aberdeen (1845) e Eusébio de Queirós (1850). A mão-de-obra que até então dependia única e exclusivamente do comércio de escravos provenientes da África, agora necessitava de uma nova alternativa.

A reposição da força de trabalho era de grande importância naquela época, pois os grandes plantadores de café não estavam dispostos a perder lucros pela ausência de força de trabalho disponível. Com isso, resolveram implantar o uso de mão-de-obra assalariada dos migrantes europeus. A vinda desses trabalhadores foi possível graças às revoluções e crises que assolavam a Europa na época, principalmente na Itália e na Alemanha.

O primeiro a organizar esforços nesse sentido, foi o senador Nicolau de Campos Vergueiro que, entre 1847 e 1857, trouxe cerca de 180 famílias provenientes das mais diferentes regiões da Europa. Antes de chegarem em terras brasileiras, os interessados no trabalho nas lavouras de café assinavam um contrato de parceria com o senador Campos Vergueiro. Nesse documento ficava estabelecido o número de pés de café sobre a responsabilidade da família imigrante.

Com a finalização da colheita, os lucros conseguidos com a venda das sacas eram divididos entre os imigrantes e o proprietário. No entanto, essa primeira parte do contrato escamoteava uma outra série de exigências que indicavam a exploração dessa mão-de-obra. É importante lembrar que, ao longo da história brasileira, os trabalhadores braçais nunca contaram com nenhum tipo de garantia e sempre estiveram à mercê do desmando e da ganância dos grandes proprietários.

Essa relação de exploração era percebida no compromisso que a família imigrante firmava em pagar os custos de sua viagem com um acréscimo de juros de 6% ao ano. Além disso, os imigrantes contratados pelo senador ficavam responsáveis por cuidar de cafezais localizados em terrenos de baixa produtividade e eram obrigados a comprarem os gêneros alimentícios fornecidos pelo próprio fazendeiro. Dessa maneira, a vinculação dos colonos ao fazendeiro era preservada por um longo tempo.

A inviabilidade da “parceria” acabou fazendo com que os colonos que trabalhavam na fazenda Ibicaba, principal propriedade do senador Campos Vergueiro, acabassem se revoltando. Liderados por Thomas Davatz, líder religioso da comunidade de imigrantes, os europeus viram esperanças em se tornarem pequenos e médios proprietários. O incidente na fazenda Ibicaba acabou fazendo o império remodelar as relações entre os grandes proprietários e os imigrantes.

A tentativa de dar melhores condições de vida aos imigrantes acabou não se firmando na prática. O único caso em que a vinda dos imigrantes surtiu resultados positivos para a economia nacional aconteceu com a concessão de terras na região de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nestas províncias, criou-se uma camada de pequenos proprietários dedicados ao cultivo e a comercialização de diversos gêneros agrícolas.